Coronavírus: um relato diretamente da Espanha

A convite do Fátima Saúde, a jornalista e publicitária caxiense Thaís Helena Baldasso, escreveu sobre a situação da Espanha, onde reside atualmente, em relação à pandemia do coronavírus.

 

O isolamento social e a mudança total no estilo de vida foram eficientes para frear a rápida disseminação do novo coronavírus aqui na Espanha. Depois de quase um mês em quarentena, desde que foi decretado o estado de alarme pelo governo central, a população de 47 milhões de habitantes começa a ver uma luz no fim do túnel. A curva de contágio que chegou a subir 40% ao dia, hoje está em 3%, e o número de recuperados já representa, em média, 30% do total de casos, segundo as autoridades sanitárias. Mas o número de contaminados confirmados ainda é preocupante. A Espanha ultrapassou a Itália, é hoje o primeiro país da Europa com mais casos positivos, especialmente na capital Madri e na região de Catalunha. Por isso o governo resolveu prorrogar o prazo de confinamento até o dia 26 de abril, com restrições para a circulação de pessoas e a manutenção do teletrabalho. Quando terminar a situação de emergência sanitária, os empregados deverão recuperar as horas de trabalho não prestadas de maneira paulatina.

Já as indústrias poderão retomar às atividades antes dessa data. É um alívio para a economia que já começa a contabilizar os prejuízos acumulados desde o início da pandemia: 900 mil postos de trabalho fechados e 300 mil desempregados por conta da paralisação das atividades. Setores como o turismo e a construção civil perderam milhões de euros em menos de um mês. Para evitar o fechamento de muitos negócios, o governo flexibilizou o pagamento de impostos, garantiu empréstimos às empresas e ampliou as condições para o seguro-desemprego. Mas as medidas são ainda insuficientes para cobrir o rombo econômico. A Espanha espera ajuda financeira do conjunto de países da União Europeia para reerguer o País.

#YoMeQuedoEnCasa saiu das redes e virou campanha nas ruas de Madri, na Espanha.SERGIO PEREZ / REUTERS / ElPaís

Por parte da população, a onda de solidariedade moveu, literalmente, montanhas. Muitos voluntários estão produzindo material sanitário em casa, como máscaras, luvas, uniformes. Empresas privadas estão criando novos respiradores, inventando novos protótipos de produtos para auxiliar aos profissionais de saúde que trabalham incansavelmente para atender a grande demanda de pacientes nos hospitais. Os lares de idosos foram desinfetados pelo Exército para garantir a saúde dos mais vulneráveis. Hotéis e um grande centro de exposições internacionais abriram suas portas para alojar pacientes. E 94% dos espanhóis, segundo pesquisa realizada, estão em casa para garantir a sobrevivência de todos. Só o esforço coletivo poderá garantir a volta à normalidade, o mais rápido possível. O próximo passo será aumentar o número de testes realizados em pessoas que apresentam sintomas evidentes.   

E enquanto não contamos com a cura da Covid-19, segue a busca por uma vacina para combater o vírus e tratamentos que podem curar os pacientes contaminados. Aqui na Espanha, um tratamento experimental baseado nos medicamentos mais utilizados contra a AIDS há mais de uma década, tratou com sucesso no hospital Virgem del Rocío, em Sevilha, o primeiro paciente infectado em Andalucía pelo novo coronavírus. Segundo os especialistas, os resultados são promissores mas ainda não há evidências clínicas suficientes para a aprovação do tratamento. Um só caso não comprova que o coquetel possa ser utilizado em outros pacientes com o mesmo efeito, mas é uma esperança para os contaminados pela nova doença. A Catalunha já começou a realizar testes com 200 casos positivos leves e cerca de 3.000 pessoas que tiveram contato com contagiados.

Avenida de Barcelona vazia neste domingo.JOAN MATEU / AP /El País

Por enquanto, a única certeza que temos é que nada será como antes depois dessa crise. A ameaça invisível que chegou rapidamente sem avisar mudou nossa forma de viver aqui na Espanha e obrigou a todos a repensar as prioridades. Pela dor, o confinamento ensinou que a união de forças em torno de um objetivo comum é poderoso e que o individualismo já não terá mais lugar nesse novo mundo que começa agora. 

Teremos muito trabalho para voltar à tona, mas o momento agora exige garra, criatividade e motivação, apesar de um cenário nada acalentador. É hora de pôr em ação o plano B, pessoal e profissional.

Thaís Helena Baldasso
Jornalista e publicitária caxiense, reside em Madri (Espanha)

Institucional