Perigos à vista: viroses aumentam, automedicação também

Com a chegada do inverno e as doenças mais comuns da estação, os brasileiros recorrem a certos medicamentos por conta própria. Saiba quais são, para que servem e conheça os riscos de utilizá-los sem prescrição médica

 

 
Ah, o inverno! Enquanto alguns aguardam ansiosamente a temporada das sopas, dos vinhos e das roupas elegantes, outros já estão contando os dias para seu fim. Seja como for, trata-se de uma época do ano em que a incidência de gripes, resfriados e infecções respiratórias cresce vertiginosamente. As crianças pequenas e os idosos costumam ser os mais afetados, mas a realidade é que todos estamos expostos a uma centena de vírus, incluindo a Covid-19.
 
 
Diante do cenário, é comum que as pessoas recorram ao alívio imediato de dores e desconfortos partindo para a automedicação. Sobretudo, quando há aumento da temperatura corporal, a famigerada febre. Hoje em dia, inclusive, com a facilidade do acesso à informação, uma rápida pesquisa na internet acaba por adiar a procura por atendimento médico.
 
 
Segundo o Datafolha, se automedicar é um péssimo hábito praticado por cerca de 77% dos brasileiros. Desse total, 47% admitem fazer isso pelo menos uma vez por mês, enquanto 25% o fazem todos os dias ou semanalmente. Por isso, é crucial falar sobre os perigos que esse costume oferece a fim de aumentar a consciência da população.
 
 
Alerta: automedicação traz riscos à saúde

Certamente, se automedicar após perguntar a vizinhos, familiares e amigos, ou ao consultar fontes duvidosas, são práticas perigosas que trazem diversos riscos à saúde. Os efeitos colaterais da automedicação vão desde reações alérgicas, passando pela dependência e até a morte. Sem falar que ao mascarar um sintoma o diagnóstico preciso pode atrasar, ocasionando o agravamento do problema.
 
Primeiramente, nenhum site ou postagem nas redes sociais substitui a consulta médica. Em segundo lugar, medicamentos são substâncias químicas que possuem contraindicações e ainda podem anular ou potencializar o efeito uns dos outros se houver combinações inadequadas. Em tempos de pandemia, as fake news foram responsáveis pela divulgação de tratamentos sem comprovação científica que provocaram o aumento das intoxicações.
 
Todavia, saber o mínimo necessário sobre como os remédios que todo mundo tem em casa é também uma forma de evitar a administração inadequada. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50% dos usuários de remédios o fazem de forma incorreta.
 
Farmácia não é loja
 
No Brasil, existe uma cultura de que a farmácia é um mero comércio e o medicamento uma mercadoria como outra qualquer. Além disso, podem ser adquiridos no balcão das drogarias sem grandes dificuldades. De fato, isso tem estimulado, e muito, o consumo de medicamentos de forma indiscriminada.
 
Entre os tipos mais comprados pelo consumidor brasileiro estão os anti-inflamatórios, analgésicos e antibióticos. Para especialistas, a sociedade precisa ser alertada sobre a utilização inadequada desses medicamentos, que podem levar à falência renal, entre outras complicações.
 
Com funções distintas, veja a seguir como cada um age no organismo e suas reais indicações.
 
 
Anti-inflamatórios
 
 
Como funciona: impedem ou amenizam reações inflamatórias causadas por uma infecção ou lesão.
Mecanismo de ação: por inibição das prostaglandinas, produzidas por uma enzima chamada ciclooxigenase, reduzindo a vasodilatação e o edema da região inflamada.
Classes:
Não hormonais (AINEs): são os fármacos mais utilizados atualmente, cujo mecanismo de ação é inibição da ciclooxigenase (COX), que atuam como mediadoras de inflamação e influenciadoras na agregação plaquetária. Os mais conhecidos incluem aspirina e ibuprofeno;
Hormonais (corticoides): são uma classe de medicamentos de ação anti-inflamatória e imunossupressora, ou seja, usada para suprimir os mecanismos de defesa do corpo. Seu uso é indicado apenas para condições clínicas específicas, uma vez que eles provocam diversas alterações metabólicas, como variações de açúcar no sangue, hipertensão e perda de potássio. Dexametasona e prednisolona são exemplos.
Mais informações: destaca-se que os anti-inflamatórios possuem também efeito antitérmico e analgésico, contribuindo para uma melhora das dores em geral. Normalmente, eles são indicados para quadros de dor nas costas, febre, gripe ou resfriado e cefaléia.
 
 
Antibióticos
 
 
Como funciona: impedem ou eliminam a multiplicação de bactérias que causam infecções.
Mecanismo de ação: destroem as bactérias ou detêm sua reprodução, ajudando as defesas do organismo a eliminar os micro-organismos causadores de um determinado processo infeccioso.
Classes:
Penicilinas: indicados para o tratamento de infecções como bronquite, pneumonia, sinusite, infecções urinárias ou vaginais. Os principais antibióticos da classe das penicilinas são amoxicilina, penicilina G benzatina e ampicilina;
Tetraciclinas: são antibióticos bacteriostáticos, isto é, que inibem o crescimento bacteriano, de amplo espectro e bastante eficazes frente a diversas bactérias aeróbicas e anaeróbicas.
Sulfonamidas: também conhecidas como sulfas, atuam como agentes bacteriostáticos. Foram utilizadas para tratamento de pacientes com infecções no trato urinário e também em portadores do vírus HIV que apresentam infecções bacterianas.
Macrolídeos: agentes bacteriostáticos usados em infecções respiratórias como pneumonia, exacerbação bacteriana aguda de bronquite crônica, sinusite aguda, otite média, tonsilites e faringite.
Cefalosporinas: geralmente indicadas para o tratamento de infecções do trato respiratório, otite média, infecções na pele e infecções urinárias. Alguns exemplos incluem cefalexina e ceftriaxona;
Aminoglicosídeos: normalmente voltados para o tratamento de infecções na pele como úlceras, feridas com pus, furúnculos, eczema ou dermatites.
 
 
Mais informações: os antibióticos são indicados segundo sua estrutura química de base. Desse modo, cada antibiótico é eficaz apenas contra determinadas bactérias. Seu uso deve ser feito apenas com prescrição médica, assim como sua venda é proibida sem receita.
 
 
Analgésico
Como funciona: são utilizados para combater qualquer tipo de dor, como de cabeça, muscular, dente, etc.
Mecanismo de ação: atua bloqueando os receptores sensoriais, impedindo que o sinal de dor seja enviado para o cérebro.
Classes:
Comuns: como paracetamol e dipirona, são indicados para o tratamento de dores moderadas ou leves, como dores de cabeça, lesões comuns e cólicas menstruais;
Anti-inflamatórios não esteróides: medicamentos que, além de combaterem a inflamação, também possuem propriedades analgésicas — como ácido acetilsalicílico, ibuprofeno e diclofenaco. Normalmente usados para aliviar dores causadas por algum tipo de lesão decorrente de uma inflamação;
Opióides: incluem analgésicos sintéticos, como tramadol, e a morfina, uma substância derivada do ópio. São indicados para tratar dores crônicas ou severas, como em casos de câncer ou após uma cirurgia.
Mais informações: analgésicos e anti-inflamatórios podem ser administrados juntos, desde que indicados por um especialista. Uma vez que o anti-inflamatório pode demorar um tempo para começar a fazer efeito, pode ser necessário o uso de analgésico para aliviar as dores causadas pela inflamação, acelerando o tratamento.
 
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